O Reencantamento da Terra (Saúde e Psicologia)

Discorrer sobre os mistérios do Novo Evangelho, é trazer luz sobre pungentes questões que dizem respeito, de forma objetiva, acima de tudo à humanidade em seu próprio nível. É elucidar a natureza e as correlações de dois princípios terciárias, o Espírito Santo e a Criação, e é deitar as bases de um inédito humanismo espiritual. É aprofundar e universalizar, em definitivo, aos chamados Mistérios Marianos. Em termos práticos, é reconhecer na Natureza o fundo universal que possui, em termos físico, psicológico, mental e espiritual, além, de culturalmente, conferir à Ecologia a importância que merece, a partir da identificação de uma dimensão maior a ela relacionada, enquanto parte divina. É, enfim, ancorar no foro humano as maiores realizações possíveis, em temos de saúde, amor, ciência e sabedoria. O Evangelho da Natureza é a grande chave revelada para o resgate da magia e para o reencantamento da Terra.

APRESENTAÇÃO ...... HOME ......INICIAL......EDITORA.......VIDEOS.......GRUPOS

Maitreya e o Xamanismo

Assista também a este conteúdo resumido em Vídeo

O xamanismo representa a experiência espiritual mais primitiva da humanidade, possuindo direta analogia com as etapas mais primárias da construção da personalidade humana. De modo que a experiência da formação do indivíduo também relaciona-se diretamente com os eons da formação da nossa espécie. Ao trazer tais associações não estamos “forçando” a situação. Seria perfeitamente dispensável insistir aqui sobre o valor educativo que pode possuir a Natureza sobre o ser humano até mesmo em muitos níveis. 

As pessoas não costumam dar-se conta da forma como muitas das antigas atividades naturais e xamanistas terminaram por ser incorporadas à infância e às tradições, tal como muitas delas também perduram nas camadas mais antigas e rurais das sociedades. Certas atividades tradicionais foram convertidas em esporte e lazer na vida moderna, e não obstante elas ainda podem conservar um caráter lúdicos e educativo para os jovens e as crianças. Nas culturas antigas um jovem que soubesse caçar e pescar já tinha recursos importantes para a sua sobrevivência. 

Talvez seja ilustrativo mencionar a famosa novela rural de Ricardo Güiraldes (autor romântico argentino que sofreu influência da Teosofia) intitulada "Dom Segundo Sombra", onde um rico fazendeiro aproxima o seu filho durante toda a sua adolescência da lida campeira, convivendo com a Natureza e colhendo a sabedoria dos mais velhos, afastando-o assim dos riscos da juventude urbana, até que na entrada da vida adulta seja direcionado aos estudos na Capital.

No Hinduísmo o xamanismo está muito vinculado a Shiva, o grande senhor das transformações -daí ser chamado de “Senhor do Soma”-, sendo também muito forte no Budismo Tibetano em função do poderoso reforço recebido através da primitiva Tradição Bön. Os mitos estão repletos de alusões a crianças divinas, e uma das formas de entender isto seria pela forma especial como vieram ao mundo e depois se desenvolveram.

Os desafios do Xamanismo apresentam bases notoriamente físicas, porém destinadas a conduzir a experiências sutis em função dos desafios de superação que acarretam. Não obstante também é notório que poucos tem a carga de experiências como a que recebeu Maitreya ao longo de sua vida desde o nascimento. Nesta etapa de vida Maitreya já atravessa muitas provações fortes e tem suas primeiras experiências místicas e religiosas, manifestando também vários dons e poderes espirituais.

Experiências xamânicas e ritos de iniciação formais se caracterizam pela afirmação da bravura e da resistência por parte do postulante. Ora tudo aquilo que Maitreya vinha atravessando já desde o próprio nascimento, foram situações xamânicas autênticas e muito desafiadoras, não deixando nada a dever para as provações xamanistas tradicionais, e menos ainda para as situações artificialmente controladas do neo-xamanismo new age. É na infância que o caráter é formado, e habituar-se a injustiças e superar provações pode outorgar uma especial robustez psicológica ao ser humano.

Os ciclos xamânicos estão simbolizados pelo quadrado e pelo cubo, ou seja: são ciclos de quatro anos, formando os estágios das duas infâncias, das duas adolescências e finalmente de transição para a vida adulta. A fórmula em questão é portanto 4x5=20 anos, relacionado também ao valor “4” do Teorema de Pitágoras. 

O calendário evolutivo apresentado aqui, integra os estudos de Maitreya sobre estruturalismo sagrado e Pedagogia Áurea. Para os interessados no aprofundamento do assunto pelos aspectos do xamanismo, da psicologia ou da educação, podem ser encontrados maiores detalhes técnicos em nosso artigo “Educação e Xamanismo”.

Esta é portanto a história do jovem Maitreya, aquele que nasceu para se tornar o futuro Buda.

1. Primeira Infância (1-4 Anos) - “O Monstro da Terra”

O nascimento não costuma ser uma situação fácil para ninguém, e o homem moderno ainda tem acrescentado a isto procedimentos bastante curiosos, para dizer o mínimo, capazes de trazer ainda maior sofrimento ao bebê.

Os pais de Maitreya preparam-se longamente para o seu nascimento porque desejavam uma família bem estruturada. Queriam estar preparados para oferecer tudo de bom e do melhor aos futuros filhos.

Não obstante, aconteceu de Maitreya nascer num parto traumático em função dos procedimentos médicos da época. A força deste trauma acarretaria numa deformação craniana permanente, tornando a sua cabeça um pouco semelhante à dos crânios alongados cultivados em muitas tradições antigas. Mas sobretudo um grande trauma psicológico que perdurará por mais de vinte anos impedindo-lhe de dormir naturalmente à noite. 

Por isto no começo havia sempre muito choro e insegurança, a criança sequer conseguia ficar sozinho em seu próprio quarto. Ela não conseguia dormir sozinha porque era atormentada por pesadelos terríveis, exigindo ficar no quarto dos pais onde unicamente sentia-se segura. 

De modo que estar neste mundo era um desafio para o pequeno Maitreya. Sua desafiadora chegada ao planeta seria como o enfrentamento de um mostro, cujas presas eram as pinças que o arrancaram violentamente do útero de sua mãe, tragando-o para dentro deste mundo cruel. Aos poucos Maitreya foi se ajustando à situação, porém os desafios não cessariam de aparecer.

Maitreya era assim um sobrevivente já desde os seus primeiros dias, alcançado resistir física e psicologicamente, apesar dos muitos ajustes ortopédicos e psicológicos que deveria encarar durante a sua infância.

O contrapeso destas situações eram pois a presença dos pais em especial da mãe que é tão importante na primeira infância. A mãe de Maitreya era porém trabalhadora e seus pais decidiram contratar uma jovem governanta para cuidar de Maitreya, e que gostava muito dele sendo assim uma boa companhia para o pequeno. 

Nesta sua primeira etapa de vida Maitreya como que reviveu as evoluções materiais da primeira ronda da humanidade primitiva, que são ciclos de 12 mil anos, quando o ser humano teve que aprender a lidar com os desafios da existência sem meramente vitimizar-se mas enfrentando os perigos que o rondavam a cada momento, podendo contar sempre porém com as dádivas da Mãe Natureza para poder sobreviver. 

2. Segunda Infância (4-8 Anos)- “O Tormento das Águas”

Às vésperas de Maitreya completar quatro anos nasce o seu irmão. Dadas todas as circunstâncias especiais acima narradas -de filho há muito aguardado e nascido com necessidades especiais -, Maitreya ainda recebia muita atenção dos pais. Em função disto este novo nascimento lhe seria particularmente problemático já desde o primeiro momento.

Como primeira medida Maitreya já não poderia contar com dormir no quarto dos pais. E com isto as suas insônias se reinstalaram de uma vez e nada mais a demoveria. Ele já não era um bebê e não mais choraria, o que fez aparentemente seus pais acharem que estava tudo bem. “O tormento durava até o amanhecer, como se as sombras da noite simplesmente se esvanecessem e Maitreya conseguia alcançar o sono então -e ele mesmo nascera de madrugada.”  

Consta que na primeira parte da noite os espíritos malévolos são predominantes (segundo alguns do pôr-do-sol até a meia noite), ao passo que na segunda parte da noite prevalecem os espíritos benévolos (da meia noite ao amanhecer). Isto tudo era pois muito bem sentido nas longas vigílias de Maitreya, outorgando-lhe de uma forma inconsciente as suas primeiras lições sobre o mundo oculto. Segundo o ensinamento tolteca divulgado por Carlos Castaneda, o medo representa o primeiro grande inimigo do homem de conhecimento. Neste caso a superação ou o controle do medo também representa o grande umbral que dá acesso ao caminho espiritual.

Por qualquer razão os pais de Maitreya nunca se interessaram em buscar investigar as origens dos problemas da criança e o problema foi se prolongando. Todo este quadro apenas agudizava o sentimento de abandono que Maitreya sentia diante do nascimento do irmão, um quadro natural mas que por estas e outras razões seria muito intensificado aqui.

Maitreya cedo aprendera a ler porque era ávido por passatempos e diversões, a insônia seria então preenchida com leituras noturnas à meia-luz, e que lhe acarretariam com o tempo numa precoce miopia. Maitreya apreciava porém a escola infantil, pois era um lugar lúdico e ele podia fazer ali novos amigos.

O pequeno Maitreya também começou nesta etapa a afeiçoar-se aos animais domésticos, aos quais sempre muito apreciava e que lhe serviam como companhia e eventualmente como confidentes íntimos, aprendendo assim importantes lições com os animais, de resignação e de companheirismo. Porém também descobriu que eles não eram simples brinquedos e que podiam reagir aos excessos dos seus donos.

Nesta etapa de sua infância, Maitreya precisou aprender a controlar pois as suas emoções, redirecionando e canalizando os seus conflitos internos para novos interesses. “Pois além dos problemas de sono, Maitreya agora precisava começar a administrar também os sentimentos de injustiça e de abandono.”  

Nesta sua segunda etapa de vida Maitreya como que reviveu as evoluções da segunda ronda da humanidade primitiva, quando começa a dominar as forças astrais e a organizar as relações familiares. 

3. Primeira Adolescência (8-12 Anos) - “A Dança dos Ventos”

A Primeira Adolescência de Maitreya também lhe trará muitas novidades, na forma de uma expansão dos horizontes. Pensando em ampliar os ambientes domésticos, a família de Maitreya adquire um sítio na Zona Rural. Para o pequeno amante da Natureza que Maitreya já era aquilo foi uma festa. Foi nesta fase que Maitreya viu o pássaro caminhando para a boca da serpente de que tratamos no estudo sobre a experiência serpentina de Maitreya.

Ganha do seu pai uma espingarda e torna-se um exímio caçador; pobre do pássaro que pousava na sua mira. É claro que isto não tardaria a terminar com lágrimas de arrependimentos.

Nesta altura as tensões em casa crescem em função dos atritos com o irmão, o que representava uma situação completamente anormal entre as famílias que Maitreya conhecia e ele não entendia o que estava acontecendo ali. 

A vida espitual de Maitreya também conhece aqui um primeiro desabrochar, através dos contatos com a avó paterna religiosa que residia igualmente no interior, e que começa a lhe contar histórias do Velho Testamento, o que Maitreya sempre escutará com o maior interesse. Da mesma forma que o jovenzinho começa a realizar viagens astrais, a partir de um comando que recebe de um Iniciado que entreveu nele elevados potenciais místicos.

Na escola os problemas começavam a acontecer pelos estudos complexos e aborrecidos, e o míope Maitreya pouco enxergava o quadro. Buscava compensar as suas dificuldades através da vida social e cultural. Começa também a frequentar festas, carnavais e boates, como qualquer jovem de sua idade vivendo a própria puberdado, sendo sempre chamado para encabeçar os desfiles das datas comemorativas.  

Nesta sua terceira etapa de vida Maitreya como que reviveu as evoluções da terceira ronda da humanidade primitiva, relacionada ao Reino Animal e à energia do poder. 

4. Segunda Adolescência (12-16 Anos) - “O Arroubo do Fogo”

A verdadeira adolescência de Maitreya traz como é natural uma certa emancipação. Inicialmente começa a conhecer o mundo através de viagens longas com a família. Deslumbra-se na descoberta de novas terras e de povos distantes, permitindo desenvolver assim certo pensamento crítico sobre as coisas.

Tampouco podemos omitir que no período da sua primeira comunhão Maitreya despontaria entre seus pares, demonstrando familiaridade com os assuntos da religião, inclusive com demonstrações de proezas e habilidades inusitadas amparadas na fé. Com isto Maitreya estava testando o poder da fé em si mesmo e a força da sua própria fé.

Maitreya aproxima-se do pai nesta etapa, acompanhando-o em suas tarefas como empreiteiro no litoral, até que um desagradável incidente com Maitreya muda os rumos desta parceria. Contudo as pescarias com o pai serão lembradas como alguns dos momentos mais agradáveis passados com a família. Tudo isto permitiria uma interação mais intensa com a Natureza. O jovem revela-se ademais um esportista hábil em várias modalidades de esportes. 

Nisto ele até mesmo chega a ganhar um pequeno cavalo de um vizinho fazendeiro. Maitreya apreciava muito cavalgar, embora tenha colecionado também algumas experiências bastante desagradáveis nesta atividade com animais chucros. Mas no final das contas, quem gosta de ser tratado desta maneira?! A força das bestas deveria ser devidamente respeitada.

Inicialmente Maitreya é levado para boas escolas. Contudo começa a sofrer ali bullying de pessoas mais velhas, descobrindo assim que a humanidade não era nenhum mar de rosas. A violência gratuita é como o animal no humano. Maitreya mesmo teve as suas fases de rebeldia que teve que ser curada oportunamente. As brigas e agressões porém nunca iam longe porque Maitreya era incapaz de reagir a uma provocação e de agredir o seu opositor.

Poderíamos quiçá comparar os valentões a forças da Natureza semelhante a bestas e a feras. É preciso astúcia e paciência para lidar com elas. Por outro lado os animais não costumam atacar de maneira gratuita e nem sentem prazer em humilhar, de modo que nisto pode também transparece traços de energias demoníacas no ser humano. Aqueles que comparam a maldade humana aos animais praticam uma injustiça contra a Natureza. 

A espécie humana é a única que pode abrigar em si o céu e o inferno, sendo ademais capaz de desenvolver desvios de caráter de todo próprios que são verdadeiramente infernais, mesmo quando prescindem de violência física, porque também representam formas do Mal e da crueldade em estado bruto. Não é preciso buscar muito para encontrar a maldade humana pois ela também se destaca da média em sua sede de poder e de controle, e Maitreya precisou conviver cedo e longamente com estes problemas nos seus círculos mais íntimos, respondendo a isto ora com resignação, mas muitas vezes também com revolta.

Para contornar toda esta situação Maitreya é levado para escolas menos qualificadas. Ali já não havia assédio pessoal, porém tornou inevitável a aproximação com o submundo das drogas. Na verdade a situação foi bem-recebida por Maitreya porque certas substâncias lhe ajudavam finalmente a dormir à noite. Conseguir dormir à noite era uma benção que Maitreya praticamente desconhecera em toda a sua existência até então. Como vimos a família jamais se interessou em buscar investigar o seu problema.

Não tardou é claro para Maitreya conhecer também os enteógenos, que mais do que drogas comuns são também clássicos instrumentos do xamanismo relacionados a formas primitivas de religiosidade. É claro que o jovem Maitreya nada sabia disto, e no entanto ele não teve nenhuma dificuldade para acessar espontaneamente os maiores potenciais destas ferramentas de expansão da consciência, numa época em que quase não eram conhecidos vínculos entre tais recursos com as religiões, e num meio em que não se sabia aproveitar os potenciais destes recursos. Maitreya torna-se então um estudioso do xamanismo, explorando avidamente as literaturas eruditas e populares existentes na época em torno do assunto. Certamente tudo isto estava sendo muito revelador e transformador na vida de Maitreya.

Nesta sua quarta etapa de vida Maitreya como que reviveu as evoluções da quarta ronda da humanidade, e que é a sua ronda atual, destinada a forjar a verdadeira religiosidade do coração. 

5. Transição da fase Adulta (16-20 Anos) - “A Expansão do Éter”

A aproximação da vida adulta não seria menos complexa para Maitreya. De fato vários furacões que já vinham se armando eclodiram nesta etapa, acarrentado em grandes crises de diversas naturezas e preparando os caminhos para o seu defintivo despertar. Trata-se pois de um momento decisivo de transição para a vida adulta, reunindo de certa forma todos os elementos anteriores. Podemos estimar que este quadro também tenha analogias com os passos futuros da humanidade, agora que se aproxima a sua quinta ronda de evolução.

Agora Maitreya não consegue mais acompanhar os estudos, e a escola começa a se mostrar insustentável. No plano social a sua timidez com as mulheres lhe traz intimidação e desconforto. As experiências com enteógenos são levadas além do razoável e ele quase perde a vida por overdose. 

Para culminar tudo isto, a repressão policial lhe traz uma experiência que jamais esquecerá e da qual sente-se com sorte por sair com vida. Tal violência extremada -apesar de jovem ser menor e não se interessar pela política- será sentida por Maitreya como um verdadeiro novo parto, evocativo dos traumas que um dia o trouxeram à esta vida e do qual ainda não estava totalmente recuperado.

De súbito toda a nefasta situação política que grassava então no seu Continente caiu sobre os seus ombros como uma bomba, ele que até então permanecera completamente alienado de todas estas questões, posto que por toda a sua vida ouvira seus pais dizerem que o regime estava certo porque os movimentos sociais eram violentos e fratricidas. Seria um duro despertar para a realidade aquele.

Aquilo seria pois a gota d’água que selaria a sua decisão. Para que esta não esmorecesse, “a própria Espiritualidade parecia não deixar esquecer em que mundo vivia-se então através de sonhos de conscientização. Uma noite Maitreya sonharia com câmaras de torturas disfarçadas de parques de diversões, imagem perfeita do Regime opressivo e alienante em que se vivia.”  

Com isto Maitreya decide que não deseja ter mais nada a ver com este mundo. Alice A. Bailey define iniciação como uma crise que demanda um esforço pela geração de uma nova energia pessoal visando superar a crise. Contudo uma grande crise também pode servir para fomentar decisões transformadoras que impulsionam iniciações.

Maitreya encontrava-se todavia completamente perdido e desencaminhado então. Não tinha mais nenhuma ideia do que fazer da sua vida, sabia apenas que não deseja mais nada daquilo tudo que conhecera até então.

E aconteceu que, nesta altura, remexendo nas suas coisas, casualmente encontra no fundo de uma gaveta uma antiga obra evangélica esquecida que lhe fora presenteada há muito por sua avó. Até então ele nunca tivera algum contato direto com os Evangelhos. O impacto que as palavras do Cristo teriam porém agora em sua alma foram absolutamente transformadoras: 

“Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?  Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam.  E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé. Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos ou com que nos vestiremos? Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas.” (Mateus 6:26-30)

Estas palavras de puro encatamento, fé e liberdade eram tudo o que Maitreya precisava para recuperar a sua confiança na vida. Sente uma grande alegria por viver em Cristo e alcança afastar-se das drogas porque começa a conseguir dormir normalmente.

“Diante disto, devidamente encorajado, tomou uma grave decisão. Afinal agora sabia claramente o que queria. Resolve abandonar os sofridos estudos formais em definitivo, optando por se dedicar inteiramente à vida espiritual, de modo a ter todo o tempo que necessitava para estes novos caminhos, os quais pareciam não obstante tão desafiadores quanto promissores. Achou que já tinha conhecido o suficiente do mal que esta humanidade profana tem a oferecer, caberia começar a conhecer agora o outro lado das coisas...”  

Tudo isto foi muito semelhante ao que aconteceu com São Francisco de Assis após descobrir uma Bíblia traduzida nas mãos de um “herege” num tempo em que a Bíblia apenas podia ser publicada em latim. Com isto Maitreya inagura a sua transição para além do xamanismo e na direção da religião ou da espiritualidade, por assim dizer. E aquilo que segue tampouco seria muito diferente de situações já relatadas na vida de grandes espiritualistas.

Eis que esta nova situação colocou a família de Maitreya em alerta, especialmente seu pai que vislumbrava ali uma dupla tragédia: Maitreya não apenas queria desistir de vez dos estudos, como também dedicar-se à vida religiosa... Seu pai tinha por alguma razão -quiçá mesmo por simples incultura- uma forte ojeriza pela religião, e também lutara muito para que os filhos tivessem as oportunidades na vida que ele mesmo não recebera quando jovem.

Começou assim a buscar formas de reengajar Maitreya em seus próprios interesses, levando-o para fazer testes vocacionais e conseguindo trabalhos em escritórios de amigos seus. Nada disto porém dava certo porque Maitreya não demonstrava interesse por nada mais deste mundo. Inclusive havia feito recentemente um grande bota-fora das suas velhas coisas mundanas. 

Mantinha apenas algum contato com os esportes pois apreciava exercícios ao ar livre, começando ademais a fazer alguns novos amigos, pois também desejava compartilhar os seus novos sonhos. Com isto seus pais começam a estimular o convívio de moças junto a Maitreya na esperança de facilitar o seu casamento, a fim de que não entrasse na vida religiosa. 

Maitreya luta intensamente contra esta situação constrangedora, mas no final a trama familiar consegue enredar o jovem nos seus intentos. Uma gravidez precoce parece tornar inevitável o casamento -e assim repete-se o drama passado por Sidarta Gautama há 2,5 mil anos atrás, cuja jovem companheira também tinha apenas 16 anos quando teve o filho Rahula, nome que significa "amarras", sinalizando que os pais de Gautama também desejavam meramente amarrá-lo a compromissos sociais visando afastá-lo da sua vocação espiritual.

O jovem casal decidiu comemorar a sua “lua-de-mel” no litoral, onde Maitreya costumava ir para exercitar alguns dos seus esportes preferidos no período. Na época Maitreya ainda desconhecia o vegetarianismo e gostava de pescar. Certo dia ele aguardava a chegada de um barco de pesca para adquirir alguns peixes. O barco havia sido deixado à deriva para que as ondas o aproximassem do atracadouro onde estava Maitreya juntamente com alguns pescadores que iriam amarrar o barco, o qual era bastante robusto com mais de dez metros de comprimento, e estava carregado com redes e de peixes. 

Tudo parecia correr normalmente, até que um repuxo de maré trouxe de volta uma enorme onda que levantou o barco jogando-o sobre o grupo no atracadouro. Tudo levava a crer que eles seriam esmagados ali mesmo. Sem dar tempo de sequer começar a rezar, Maitreya simplesmente esticou os braços e segurou sozinho o barco no ar diante de todos, sem sequer sair do lugar, logo colocando o barco de volta na água. Em seguida as águas se acalmaram e o barco pode ser amarrado. Atônitos com o acontecido, os pescadores apenas diziam entre si: 

 “-Parece milagre! Não entendi nada do que aconteceu hoje aqui...” 

Esta não era a primeira vez que coisas assim aconteciam a Maitreya, desta vez porém havia mais pessoas para testemunhar o ocorrido. Ele não sabia porque estas coisas aconteciam a ele nas horas de perigo.

Qual o simbolismo desta passagem em especial? Em muitas tradições o barco é um símbolo da fé e os peixes representam os fiéis. No próprio Budismo ele representa o Dharma ou Lei espiritual, e a chamada Roda do Dharma é na realidade o timão de um barco. Assim, o episódio sugere que, ainda que de forma tumultuada, Maitreya estava predestinado a abraçar o caminho da fé, da religião, da espiritualidade. E mais ainda a elevar a religião uma vez mais a um plano de prioridades da humanidade, que é a chamada restauração do Dharma anunciada pelas profecias.

As fontes tradicionais afirmam que Maitreya viverá como chefe de família, terá um filho e então renunciará ao mundo para atingir o estado de Buda. O que demonstra que com efeito a História segue um padrão entre os Budas e mesmo com outros personagens importantes das religiões.

Toda esta situação já era motivo porém para Maitreya sentir-se altamente frustrado, pois sentia que decaíra de sua fé. E com isto a sua insônia regressa com toda a força. O seu breve idílio pessoal seria desta forma abruptamente abortado.

Não obstante, o jovem casal não possuía maturidade para tal compromisso, e a pressão das famílias tampouco dava espaço para este amadurecimento. Com isto o divórcio não tardou e os pais assumiram a criança, dificultando o acesso de Maitreya à sua educação.

Tudo isto representou uma situação terrível para Maitreya, que entra daí em depressão, frustrado em suas esperanças religiosas e sem o filho para cuidar. Com isto começa a investigar outras formas de espiritualidade. Entre outros locais que Maitreya conheceu neste período estavam as casas espíritas, onde lhe disseram que tinha mediunidade para desenvolver. Porém ele mesmo descobriu isto ao perceber que não podia se aproximar de centros de umbanda, porque achava aquilo tudo muito carregado. E assim ele ia sentindo o que lhe servia e o que não.

Conhece então o yoga e a astrologia, apaixonando-se profundamente por estas ciências. Entre outras coisas, descobre pela astrologia que possuía um temperamento mercurial, isto é, inquieto e inquisitivo, com ênfase central em sua personalidade e depois na sua capacidade de trabalho.

Durante suas pesquisas começa a visitar ashrams por curiosidade. E já no primeiro dia nestes locais, Maitreya alcança naturalmente algo pela qual lutara toda a sua vida, que era... dormir.

Isto lhe sugeria que ele havia finalmente chegado ao seu verdadeiro lugar. Compreende intuitivamente que necessitava de uma redoma para conseguir fortalecer o seu espírito, e a poderosa egrégora do ashram lhe proporcionava exatamente isto.

Confiante assim na velha espiritualidade do Oriente, decide passar a viver em ashrams espirituais na condição de Brahmacharya ou estudante casto, realizando para isto a preparação de um ano para as intensas disciplinas que deveria encarar doravante.

6. Conclusão

Nesta altura alguém poderá perguntar se Maitreya terá precisado mesmo passar por tudo isto para chegar até um ashram, e se a Espiritualidade não poderia ter facilitado as coisas para ele. Alguém dirá também que com Gautama as coisas teriam sido mais simples. Mas nós diremos que não, elas foram apenas simplificadas nos relatos públicos e por variadas razões.

Acontece que raros são aqueles que decidem-se voluntariamente e também mais seriamente por uma vida de ashram, porque isto tende a pedir importantes decisões. Mas a verdadeira resposta aqui está nos resultados que Maitreya obterá em sua experiência de ashram, que será muito superior a média comum, uma vez que, com tudo que passara na sua vida, ele estava especialmente motivado para viver uma outra existência. Maitreya sentia-se totalmente morto para o seu passado, sem mais ilusões quanto a este mundo. 

Através de suas precoces experiências intensas e diversificadas de vida, Maitreya treinou o seu espírito para os desafios que deveria encontrar no caminho espiritual, de modo a não esmorecer nos seus esforços até alcançar cada um dos seus objetivos.

Em conclusão, toda a precoce experiência xamânica de Maitreya e, por extensão, de toda a humanidade, terá servido apenas como estímulo e preparação para a busca de uma nova forma de existência autenticamente espiritual.

Naturalmente o caminho dos Avatares não é para todos, e isso nem seria necessário, porque com seus esforços e sacrifícios sobrenaturais as encarnações divinas reabrem as portas do Paraíso para humanidade. 

Este grande passo de ingresso no ashram selaria pois a primeira grande vitória de Maitreya, sobrevivente já de muitas provações ao longo de sua jovem existência. E todo o fortalecimento espiritual que Maitreya alcançará doravante integra apenas mais uma volta na vertiginosa espiral da vida de um Avatar, porque servirá apenas para prepará-lo para provações semelhantes ou ainda mais fortes do que aquelas que vivera até então. 

E é assim que, buscando cumprir o seu verdadeiro destino -sem atrasos apesar de tudo e aos vinte anos de idade-, e em sua plena Noite Negra da Alma, morrendo definitivamente para o seu passado e também para o mundo, Maitreya vestirá -simbolicamente falando- o hábito negro de monge para começar -e agora com maior solidez-, a longa construção do seu Ser interior.


Para saber mais

A Lenda do Kalki Avatar

Maitreya e a experiência Serpentina

A Iluminação de Maitreya

Quem é o Maitreya aguardado

Veja também

Os Pilares da Sabedoria (Relatos de Iniciação)

A Missão de LAWS - a revelação

Jesus - os Anos Ocultos

O Que são os Mestres?


Sobre o Autor

Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso dos Mistérios Antigos há mais de 50 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo e no Esoterismo Prático, desenvolve trabalhos também nas áreas do Perenialismo, da Psicologia Profunda, da Antropologia Esotérica, da Sociologia Holística e outros. Tem publicado já dezenas de obras pelo Editorial Agartha, além de manter o Canal Agartha wTV 


Nenhum comentário:

Postar um comentário