Sabe-se que as relações entre as mulheres com as religiões muitas vezes tiveram as suas polêmicas, mesmo dentro dos próprios núcleos sagrados como foi a história de Jesus. Provavelmente nisto tudo podemos encontrar um misto pouco compreendido de erros e de acertos. Por esta razão antes de qualquer outra coisa, cabe tratar dos arquétipos que podem esclarecer sobre a natureza e a forma de expressão das coisas. No caso, os arquétipos centrais do masculino e do feminino são o Sol e a Lua, embora os restantes planetas façam parte dos seus séquitos, e também serão citados de passagem.
O Sol é uma estrela e portanto dotado de luz própria, com grande poder interior que dá luz e calor, sendo comumente cercado por todo um sistema de satélites. Já a Lua é um satélite da Terra que recebe a sua luz do Sol, apesar do seu tamanho aparente ser semelhante ao do Sol, possuindo ademais uma forte influência magnética sobre o nosso planeta.
Assim o homem possui uma grande potência de criação espiritual, de desenvolver conhecimentos e de forjar lideranças, ao passo que a mulher possui uma grande sensibilidade para transmitir a realidade espiritual e para gestar a vida e semear a consciência.
Cabe analisar então o papel das mulheres dentro das religiões, não pessoalmente em relação ao próprio Avatar, tema ao qual temos nos dedicado já em outras ocasiões, mas sim dentro da sangha ou da igreja em evolução. Certamente a sua função foi muitas vezes de estímulo e de admoestação, legando às grandes matriarcas o papel que tiveram no decurso de toda a evolução da humanidade, tornando-as objetos de culto e de adoração desde e mais remota pré-história humana, destacando-se quiçá naquelas sociedades matriarcais. O que faz lembrar que ingressamos agora em 2012 numa nova raça matriarcal, por ser a quarta desta ronda, o que só amplia a responsabilidade da mulher e o potencial do seu protagonismo. A energia quaternária está relacionada à Vênus e ao coração, fomentando assim o desabrochar coletivos dos arquétipos de Eros e de Thanatos, tal como dos chamados Mistérios Órficos e Ctônicos.
Raffaello Sanzio, Sibyls, Roma - Basilica de Santa Maria della Pace (cappella Chigi)
É muito importante que quando a força do homem falhe a força da mulher desponte. Não estamos dizendo que as mulheres precisem pegar em armas como fez uma Joana d’Arc, que seria um caso extremo, com seu poder de despertar a moral masculina para a luta. Porém a simples elevação da sua consciência pode fazer muito pela evolução das coisas, posto que a força lunar da mulher é de natureza moral e consciencial. Neste caso a força da mulher-discípula pode refletir e elevada consciência do Mestres para transmitir as suas Vontades no Mundo, como fizeram as grandes pitonisas antigas e as mensageiras das Hierarquias. É onde a mulher atua espiritualmente como Graal sagrado acolhendo as sementes de sabedoria para semeá-las no mundo ou para gerar frutos na terra. É desta forma que as mulheres puderam se destacar na raiz das religiões, dentro de uma função de Mães do Dharma, como foram as Marias do Cristianismo, ou como a Santa Rabia de Baçorá no Sufismo. Porque não lembrar aqui de Aspásia de Atenas, de Temistocleia a matemática e profetisa de Delfos, de Melissa a pitagórica, Asioteia de Filos que ensinava física na Academia de Platão e da grande Hipátia de Alexandria, para citar algumas sábias célebres do período clássico.
Com efeito autores antigos como Virgílio nas suas Éclogas, listavam também as sete sibilas da Grécia Antiga, que terminaram sendo vistas como um paralelo dos Sete Profetas principais de Israel. Na mitologia romana os deuses tinham as suas contrapartes femininas, ocupando devidamente os signos masculinos e femininos do Zodíaco.
A função das mulheres não é serem necessariamente campeãs de práticas espirituais ou porta-vozes de altos saberes elas mesmas, mas de estimular que os homens se esforcem no seu próprio aperfeiçoamento, dentro dos caminhos do Dharma ensinados pelos Avatares, que são os caminhos da iniciação (simbolizados por Saturno), inclusive no cultivo e na disseminação de conhecimentos, simbolizados pelo planeta Mercúrio -tido porém comumente como de gênero neutral. É aqui pois que entra o papel da Mãe do Mundo, a educadora da humanidade, a cuidadora social ou a instrutora da família coletiva, como extensão do papel da mãe na família nuclear. Esta faceta do feminino teria pois relação com o planeta Júpiter (atualmente também Netuno), comumente associado à Maestria espiritual, o que denota pois o seu poder e também a sua responsabilidade como mediadora entre o céu e a terra, ou entre Deus e a humanidade.
Não temos dúvidas de que muitas vezes foram as mulheres que despertaram os homens para o cumprimento dos seus deveres. Atuaram assim em apoio à orientação dos sábios, manifestando a sua sagrada função de Mães do Mundo. Na Idade Media era comum a ideia da dama nobre ser a recompensa do herói de guerra ou do campeão dos torneios -para entrar já em outra faceta dos gêneros, relacionada aos planetas Marte e Vênus. De qualquer forma nas culturas tradicionais o casamento não era permitido sem que o candidato atravessasse certos ritos de passagem.
Enfim, o importante é que haja uma compreensão dos papéis das polaridades, ainda que isto tampouco represente uma regra absoluta, mas sim um princípio geral. Todo aquele que alimenta uma aspiração, deve ter a oportunidade de colocá-la à prova.
* Sobre o Autor:
Luís A. W. Salvi é estudioso dos Mistérios Antigos há mais de 40 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo tradicionais, publicou a Revista Órion de Ciência Astrológica pela FEEU e dezenas de obras pelo Editorial Agartha. Nos últimos doze anos vem redirecionando os seus conhecimentos para a Teosofia, realizando uma exegese ampla da Doutrina Secreta e também das Estâncias de Dzyan.
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